Friday, June 22, 2007

A Ficção cientifica é a grande aliada das Mulheres





3 páginas da obra A Fúria das Femizonas
argumento de Stan Lee e a Arte de John Romita


Quando nos cabe a nós sonhar, a cada um de nós, projectar um futuro para a humanidade, mesmo aí temos a tentação para catapultar a mulher para os lugares de poder e domínio… tal como já foi o seu lugar em antigas culturas, como na cultura celta… mas esta tendência talvez se manifeste apenas porque na realidade as mulheres sempre dominaram o mundo.

Lembro-me de uma fantasia captada numa Banda desenhada, “A Fúria das Femizonas”, com o argumento de Stan Lee e a Arte de John Romita. Nesse futuro ficcionado, as mulheres vivem nos últimos bastiões da civilização, rodeadas de tecnologia… em fortalezas impermeáveis aos ataques dos homens…criaturas que regrediram na evolução, ou seja, voltámos a ser primitivos. Nos raros encontros entre uma tribo e outra apenas uma coisa interessa, fazer prisioneiros, que serão sexualmente abusados para permitir a continuação da espécie humana… só que de um lado as mulheres fazem-no com tecnologia e do outro os homens primitivos violam as prisioneiras que mantêm em cativeiro até elas lhes darem os descendentes… Esta obra é de 1973 e ainda não se falava de clonagem…

Ainda agora acabo de rever na televisão um episodio da magnifica série Star Treck, que trata todo o tipo de problemáticas existencialistas relacionadas com os encontros entre outras culturas, com a relação do Homem com o infitnito, e eis que neste episodio aparecia um conceito interessante, o Metamorfo Empata, criaturas biologicamente desenvolvidas para agradar um parceiro, isto fruto de uma civilização muito mais evoluída que a nossa…(CLARO!!!) Estes mutantes tinham a capacidade de aprender tudo sobre o seu parceiro à medida que o sentiam, percebendo todos os seus pensamentos e sensações e adaptando-se com o único propósito de lhe dar prazer. Pois acontece que quase todos os Metamorfos Empatas são machos… a probabilidade de nascer uma mulher com estas capacidades é de 1 num 1000 000… Mais uma vez, surge a própria natureza aliada à mulher, talhando seres para as agradarem, enquanto que nós ficamos a olhar do lado de cá do pano. Voltando ao episodio, é claro que surge uma dessas raras criaturas, um Metamorfo Empata fêmea que põem ate mesmo o austero Comandante Jean Luke Picard a pensar com a outra cabecinha… por qualquer lado que ela passe deixa a malta do cromossoma Y a bater mal…

É este o lugar que nos é reservado na Ficção cientifica meus caros! Somos uns brutos violentos e irracionais, levados apenas ao calor da aventura pela sede de sexo ou gloria… é isso que nos faz rebentar com naves inimigas, com exércitos alienígenas, planetas ou galáxias… é isso que nos faz saltar para a frente de um plotão de Storm Troopers a gritar com uma arma na mão e um Wookie na nossa peugada a imitar-nos o lampejo de bravura…

E sendo a ficção cientifica um catalizador de civilização, estamos condenados a um destino negro… até que alguém reaja a isto e comece a escrever ficção cientifica com uma ponta de isenção… A César o que é de César!

Thursday, June 21, 2007

Tako Tsubo


Esta semana fiquei a saber duas coisas: A primeira é que é possível aprender-se coisas a ver televisão (ninguém diria a olhar para a programação da televisão portuguesa), a segunda é que existe uma patologia associada ao desgosto. Pode levar ao enfraquecimento dos músculos do coração e pode inclusivamente levar à morte do paciente. Aparentemente a expressão “partiste-me o coração” pode ser levada ao sentido literal.

Estava a ver a Anatomia de Grey (o meu irmão chama-me bichona por eu ter uma série que, segundo ele, é para gaijas) quando aparece um caso difícil de uma mulher que apresentava sintomas cardíacos mas cujos testes não conseguiam ser conclusivos quanto à patologia associada.

Cardiomiopatia de Takotsubo, ou síndrome do coração partido (tradução literal de broken heart syndrome), está associado a “um trauma provocado por uma forte alteração emocional que pode ter uma influência directa no nosso coração. Parece ter sintomas similares ao de um ataque cardíaco uma vez que se sente um aperto no coração, dor no peito, apresentam-se fluidos nos pulmões, quebras na respiração e falhas cardíacas.
Ou seja, por culpa de um desgosto, o coração pode passar a bombear menos sangue e o músculo enfraquecer, ainda que o coração não pare. Para os que pensam que o tratamento poderia passar por vasodilatadores, Epinefrina ou cirurgia ficarão a saber que o tratamento passa por apoiar o doente ao nível psicológico e a devolver-lhe alegria…isso mesmo…devolver-lhe felicidade e bem-estar. Achei curioso e pus-me a imaginar como seria o tratamento para a Cardiommiopatia de Takotsubo:

-Doutor, Doutor…o batimento cardíaco está altamente irregular, vamos perdê-lo Doutor!!O ECG mostra que é Takotsubo! O que fazemos? Pedais? Epinefrina?

-Nada disso!
200cc’s de Golos do Benfica contra o Sporting em Alvalade num jogo do título
5mg de Leite Creme da minha mãe a cada 3 horas
2 Ampolas de concertos para o SuperBock SuperRock
100 cc’s de abraços do sobrinho
E ponham as enfermeiras a jogarem ao traga-bolas com ele todas nuas…ou vestidas de enfermeiras...ou vestidas de hospedeiras...ok 2 vestidas de enfermeiras e 2 vestidas de hospedeiras...e ponham o Dr João Mendes todo nu pelo sim pelo não!

PS: A fantasia é minha, e nela o traga-bolas ainda está na moda, o Fauno é Médico e o Sporting ainda luta pelo título…

http://en.wikipedia.org/wiki/Takotsubo_cardiomyopathy

Regresso ao Futuro IV

Olá a todos

Depois de 7 meses de ausência o mau filho à boa casa torna. Há coisas que nunca se devem prescindir e uma delas é obrigatoriamente a identidade. Abandonei (é a palavra certa) este espaço mas estou de volta como as constipações mais chatas ou aquele tio que ninguém gosta mas que tem que ser convidado para os casamentos e para os baptizados.

Numa altura em que festejo oficialmente a conclusão da minha licenciatura e a quase conclusão da minha pós-graduação, não posso deixar de sentir que estou numa fase da minha vida em que só existe uma direcção a seguir: Em frente e é de sentido obrigatório!

Por isso gostaria de seguir em frente sendo honesto com o que de bom fui tendo a montante do momento em que vivo: Os amigos verdadeiros, os sentimentos verdadeiros e o espírito de rebeldia e vontade de viver tudo o que de bom tenho direito. O TQF também representa isso e o Fauno é um dos puros e por isso estou de volta, o Fauno lá me convenceu (subornou-me com uma massagem nos meus sítios especiais) e não há nada melhor do que estar entre amigos.

Sai uma rodada para mesa 6!! Paga o Jaime!!!

PS: Falta pouco para saber se vou ser “tio” ou “tia”…prepare-se mundo…a migalhinha está quase a chegar…

Saturday, June 16, 2007

Silêncio dos culpados

Quão fácil é fazer alguém sentir-se culpado… basta devotar-lhe um silêncio… não um silêncio qualquer… mas um daqueles silêncios que te dão tempo para começares a pensar no que poderás ter feito de mal… e mesmo que sintas que nada fizeste para merecer essa caça à culpa intimista, na verdade, se fores consciente terás que te sujeitar a ela… porque metes a hipótese de não ter dado pela atitude ou acto que fez descer sobre ti malfadada culpa…

O que sinto quando me afasto é que tal silêncio acusa um culpado, de facto…mas o culpado pode ser aquele que se silencia…aquele que tenta impingir no outro a culpa…

… penso que definir a culpa é um passo de magia complicado, uma vez que difere imenso definir a culpa que sentimos da culpa que impingimos a outrem…

Pela parte que me toca nenhum silêncio me fará espécie…porque dentro de mim vivo o silêncio da paz… a mesma paz que antecede uma guerra feia… ou um outro período de paz…e tudo isso num calmo e saudável silêncio cujas raízes mergulham numa consciência tranquila.

Friday, June 15, 2007

Prostituição



Dizem que a prostituição é a mais antiga profissão do mundo e, de forma implícita ou explícita, a sociedade contemporânea faz jus a esta espécie de oficialização de um acto que cada vez me enche mais de perplexidade.




Sei - ou adivinho! - que muitos pseudo-moralistas viram os olhos, simplesmente, quando profissionais e clientes se apresentam em plena estrada, dia após dia, no exercício de tão sórdido mister. Não incrimino semelhantes mulheres, nada sei das suas histórias pessoais, e reconheço que elas só existem porque há mercado, ou melhor, porque os homens a elas acorrem tornando-se co-responsáveis e, embora sejam os pagadores dos honorários, ficam tão prostituídos quanto elas o estão.


Custa-me falar sobre este assunto, acreditem! Porém, todos os dias, há três anos a esta parte, atravesso uma variante, à saída da auto-estrada que me leva ao meu local de trabalho, e sou confrontada com duas ou três mulheres cujo rosto e atavios já identifico, postadas quase em plena estrada, tendo como apoio, exactamente, os rails de aço que visam proteger os automobilistas!


O local fica muito próximo de uma curva e, por várias vezes, tive que fazer travagens para não chocar com os carros dos clientes, em colóquio com as prestadoras do serviço! E um dia, pus-me a reflectir: se elas são profissionais, acreditadas e aceites socialmente, porque se postam assim na estrada sem que as obriguem a usar o colete reflector? Qualquer trabalhador da estrada, qualquer condutor que seja obrigado a parar, por uma ou outra razão, é obrigado a usar essa vestimenta legal: então, porque estão elas excluídas do cumprimento da lei?


Em tempos, sentavam-se numa pedra, num caminho, que foi deixado sem a protecção dos rails, e aí exibiam os seus dotes físicos para potenciais clientes; mais tarde, procederam à emenda do rail e o caminho para o bosque ficou tapado. Mas isso não as desencorojou, visto continuarem lá, dia após dia, agora bem mais em evidência, em plena via rápida!


Sei ainda que, por detrás dessas profissionais do sexo, como agora é uso chamar-lhes, nesta sociedade que tudo quer desculpar e, por isso, vai engendrando eufemismos, há uma empresa, pois uma carrinha as leva e traz do local de trabalho!


Onde quero eu chegar com esta narrativa?


É claro que não me agrada defrontar-me, quotidianamente, de uma forma tão explícita com os meandros do exercício de semelhente profissão; não me agrada, tão pouco, ter que observar a dissimulação dos clientes, avançando lentamente enquanto passam carros ou então, vê-los, sem inibições, abrindo-lhes francamente as portas dos carros. Não me agrada, confesso! Não porque me assalte uma espécie qualquer de moralismo, mas na medida em que é um espectáculo deprimente, sem qualquer conotação estética ou ética e me leva a reflectir sobre a degradação humana ali patente e, confesso, não sou capaz de compreendê-los, aos actores de semelhantes contratos: a elas que vendem a intimidade e a eles que a compram sem problemas e em plena praça pública!


Ora, é exactamente aí que pretendo chegar! Se não repararam ainda, reparem a partir de hoje, observem o mundo que vos cerca, analisem os comportamentos sociais, tomem consciência das inúmeras formas de prostituição a que somos todos obrigados, num mundo que tudo mede pelo dinheiro e que a nada parece furtar-se para obtê-lo!


Estas prostitutas de que vos falei desceram, sem dúvida e há muito, a um patamar baixíssimo da escala social; mas nós, que passamos por elas e ousamos desprezá-las e reivindicar que sejam afastadas do nosso olhar, não teremos descido ainda mais? Não vendemos o corpo do modo como elas o fazem (ou talvez o façamos de forma mais subtil e às escondidas...), não nos encostamos aos rails de protecção de uma estrada perigosa, mas vamos para o emprego vender a nossa força de trabalho a um patrão invisível a quem nós pouco importamos, participamos na compra e venda colectiva de produtos e de cargos, colaborando nesta espécie de prostituição colectiva de corpos e de inteligências!


Por isso, quando passo por essas mulheres, quando testemunho a abordagem do cliente só consigo identificar-me com elas, já que eu própria, para ganhar o sustento, me dirijo ao local de trabalho (este, considerado socialmente digno) e aí vendo, a baixo preço, a minha energia e o meu saber, sem tão pouco discutir os honorários já que eles estão previamente definidos!


É claro que eu gostava que aquelas mulheres desaparecessem do meu raio de visão; mas, ao mesmo tempo, percebo a ponta de preconceito neste meu desejo e não gosto de o admitir! Talvez por isso me tenha disposto a falar do assunto aqui, não para denunciar ou castigar, mas para me identificar com elas que, provavelmente, fariam outra coisa se acaso tivessem oportunidade ( eu nada sei sobre elas, já o disse!); como elas, eu também sou uma vendida e como algumas delas também eu faria qualquer outra coisa neste mundo, para escapar à humilhação da venda do meu próprio eu!