Friday, May 18, 2007

Os amigos não são para comer

Gosto de livrarias, perco-me por entre os livros, prefácios, folhas.
Gosto de todas as secções: gastronomia, astrologia, ciência, autores portugueses, autores estrangeiros, e…a secção infantil, gosto…! Eu sei que já sou uma menina crescida, que não deveria ler tantas histórias de fadas, príncipes, sapos e princesas. Mas a verdade é que consigo sempre transportar as histórias das crianças para o meu mundo dos crescidos…que às vezes, obrigatoriamente, tem que ser o meu.

Este domingo numa incursão a um grande livraria e enquanto vagueava pela secção infantil, descobri um livro com o seguinte título: “Os amigos não são para comer”.

Ora, o que terá este título de infantil? E os amigos não são para comer? Porque motivo?
Pronto, de facto nem todos os amigos são comestíveis, por isso alguns amigos não são para comer…mas só alguns! É que nem todos provocam crises alérgicas, vómitos ou náuseas depois da ingestão!
Caramba, há uns que são muito saborosos. E até por motivos de saúde…não devemos comer cogumelos que não estejam classificados pelos botânicos, porque podem ser alucinogénicos…por isso também não vou andar por aí a ingerir desconhecidos, a alucinação pode ser boa, mas nunca se sabe o tipo de efeito que têm no organismo, até porque alguns têm efeitos que só se manifestam na manhã seguinte.

Se me disserem: “Ana, não comas pão com nutela antes do jantar!”, eu acato a ordem.
Agora: “Ana, juízo! Os amigos não são para comer!”, se são amigos é porque já foram aprovados: já passaram no controlo de qualidade, já conheço o tempo de cozedura, sei que tipo de erva combina melhor com a cor dos olhos, se devem ou não ficar em vinha de alhos, enfim…já existe um livro de culinária rabiscado por mim, com todas as dicas que eu não posso esquecer…

Os amigos não são para comer….com cada uma! Qualquer dia dizem-me que o chocolate provoca cáries e engorda!

Os amigos não são para comer…lembram-se daquele maravilhoso programa chamado: “Arca de Noé”? Pois é….”Os Animais são nossos amigos”… era assim que o Fialho Gouveia terminava sempre o programa. Os animais também são meus amigos, outro tipo de amigos, mas a moral da história é a mesma, são amigos comestíveis! Há lá coisa melhor que um bifinho de vaca, ou um peixinho bem fresquinho assadinho na brasa?

Thursday, May 17, 2007

O assunto da bandeira – Politiquices

A essa raça de gentinha, ou “populacho que se diverte na lama…” como dizia o poeta Cesário Verde, a essa casta de míseros patriotas que se embrulham na bandeira da nação, a penduram nas janelas e ali a deixam por castigo, até apodrecer e então ganhar semelhança com o pais real, ou ainda aqueles que enfeitam o interior dos carros com elas, até o sol lhes levar a cor e só lhes deixar a vergonha pálida de um símbolo cuja ponte para o significado ruiu há muito; a essa nobre maneira de ser gente e patriotas e idiotas eu dedico este artigo.

Então juntem-se num campo de futebol para criar a maior bandeira do mundo…e seja ela só feita de mulheres, de emigrantes ou de outras minorias maioritárias que encontrem na bandeira alguma outra coisa que não seja a desigualdade social, fermento de qualquer bandeira ou pátria…

http://temos-que-falar.blogspot.com/2006/06/maior-mais-bela-e-intil-bandeira-do.html


Chegamos a esta era sem ainda ter percebido o verdadeiro significado das bandeiras de todas as nações do mundo?
Representaram esses estandartes algo mais que as fronteiras que dividem os homens e que resultam nos graves conflitos que temos em braços?

Agarramo-nos às bandeiras como se nos contassem elas histórias de união entre as pessoas e no fundo, se nos afastarmos mais do pano de jogo, vemos que é o contrario, as bandeiras afastam os povos, por vezes povos com grandes afinidades…

Tremo perante o imenso cinismo, quando vejo a miséria do outro lado do rio chamado Mediterrâneo, quando eles, os outros, tentam atravessar o rio, para alcançar a terra dos sonhos, onde vivemos e a qual não valorizamos, para alcançar qualidade de vida, ou mesmo uma hipótese de vida que seja, mesmo que sem qualidade, e nos fechamos dentro das nossas fronteiras… metemos mais policias a vigiar a grande muralha da desigualdade social… para não repartir o que temos em fartura, pois correríamos o risco de dando muito a ganhar perder apenas um pouco…e é desse pouco que não abdicamos, mesmo quando sabemos que se do outro lado do rio há fome é porque essa fome sustenta o luxo esbanjado deste lado…

A desigualdade social tem sido o têxtil por de trás de cada cor e de cada bandeira… e nós conscientes disso, alimentamos e aumentamos fronteiras, porque nos julgamos a salvo, com tamanha arrogância e avareza. Tentamos ignorar que em breve não será o suficiente aumentar o número de guardas e electrificar a vedação, não! Pois as consequências deste desequilíbrio começaram a notar-se no próprio ar que respiramos. Pela sobrevivência da humanidade, teremos mesmo de atravessar o rio e levar para lá escolas, hospitais, industrias e educação, ou o desequilíbrio desta estrutura global ruirá e o mundo dos homens ruirá com ela

Acredito que o interesse nos países do terceiro mundo crescerá com a consciência dessas eminentes consequências, infelizmente esse será o catalisador da mudança e não o amor pelo próximo… a diferença é que de uma forma trabalharemos sobre pressão para remediar danos imensos e pela outra teríamos mais tempo e espaço de manobra.

As bandeiras são o ícone onde o pior do ser humano se transforma se planifica…