Monday, November 06, 2006

Alice no País das Porcarias - Parte 1


Alice, Alice...uma menina única, que não se parece com ninguém, mas que tem um pouco de todos nós. Curiosa como uma lontra, astuta como um rato, inteligente como uma coruja. Não nasceu inteligente, tem-se tornado inteligente.
Olhos escuros e brilhantes, com ternura a fugir sob a forma de lágrimas, de vez em quando. Menina ansiosa quer o Mundo inteiro de uma só vez, não se contenta em estar contente, só quer ser feliz! Por isso vive no descontentamento de não encontrar a felicidade plena e suprema. Quando a encontra, transforma-se num verdadeiro furacão de emoções.

Lá estava a Alice, com o olhar curioso de quem vê tudo pela primeira vez. Naquele dia Alice foi para o jardim e quis ver tudo de novo. Deliciou-se com o salto de uma rã, sentiu a aveludada textura do pêlo do seu gato, tocou levemente num bicho da conta, tirou uma laranja da árvore descascou-a comeu-a e deliciou-se mais com o seu aroma do que com o seu sabor.

Alice sentia-se plena de vida, absorvida por todas as sensações que experimentava.
Nisto, do nada, surgiu aos pulinhos um terno coelho, branco e albino. A Alice desejou tocar-lhe e ver de perto os olhos do bichano, eram cor de cereja! Correu atrás dele, mas o animal era veloz, tão veloz que as suas patas traseiras pareciam aumentar de tamanho após cada salto que efectuava. Desapareceu ao entrar dentro de uma gruta, no momento em que o coelho entrou na gruta, saíram de dentro dela milhares de morcegos de todas as cores, parecia uma onda de confetis coloridos a dançar ao sabor do vento. A Alice continuou a correr atrás do coelho, mas boquiaberta com o que acabara de ver.

Ao entrar na gruta a pequena Alice não foi assombrada pela escuridão, havia na gruta uma luz tão forte, tão brilhante, tão intensa, que ela não conseguiu abrir os olhos, sentiu-se perdida, a tactear. Acabou por seguir o odor agradável do coelho, de repente, Alice deu um passo e sentiu-se a cair. Abriu os olhos, já não havia aquela luz intensa.

À medida que ia caindo, caindo e caindo naquele buraco sem fundo, Alice viu janelas e cada uma das janelas continha o rosto de um antigo amor, e à medida que a Alice ia caindo e passando por elas, estes tentavam tocar-lhe. A Alice chegou mesmo a sentir um toque leve no cabelo, nos ombros, um antigo amor mais atrevido chegou mesmo a dar-lhe um açoite enquanto ela caía, ela gostaria muito ter conseguido falar com eles, de ter retribuído sorrisos, de ter retribuído açoites, mas a força da gravidade não permitiu!

A queda demorou largos minutos, mas de um instante para o outro, a menina começou a ver luz, e sentiu os seus pés a beijarem o chão de forma muito leve. Estava numa sala, olhou para cima tentando vislumbrar o buraco que deu origem àquela queda interminável, mas apenas viu um céu azul escuro muito estrelado.

A Alice estava numa sala com quatro paredes, cada parede continha uma porta e como tecto: o céu estrelado.
Confusa, dirigiu-se à porta mais próxima, quando começou a caminhar apercebeu-se que o chão mexia tal e qual como gelatina, e as ondas provocadas pelos seus passos eram repletas de cores, as cores do arco-íris sucediam-se umas às outras.

Com tantas novidades, Alice esquecera-se do coelho e dos seus olhos cor de cereja, eles tinham sido responsáveis pela sua viagem surreal, olhou em redor na busca de alguma pista que a pudesse encaminhar até ao roedor com olhos cor de cereja. Cada porta tinha uma placa afixada:

1 – País do “Aqui e Agora”
2 – País dos workaholics
3 - País dos Liberais Descontraídos e Anarcas
4 – País das Porcarias

Alice optou pela opção mais generalista e entrou no País das Porcarias.
Encontrou um país colorido, muito colorido, nisto avistou um par de orelhas brancas atrás de uns arbustos.

“Hey! Coelho... espera!!”

“O que queres tu, gaja boa?”

Estranho, de facto era o coelho, mas estava com uns óculos escuros Ray Ban!

“Bem, na verdade queria ver a cor dos teus olhos... um desejo idiota, mas creio que nunca vi essa cor!”

“Cor dos olhos?” Respondeu o coelho com semblante gozão: “Estás Parva? Vieste até aqui para veres os meus olhos? Querida, menina: vamos aproveitar que estás aqui, esquece os olhos e passas é essa mãozinha pelo meu pelinho macio, boa? Oh, Boa!” baixou os óculos e pisco-lhe o olho.

A Alice limitou-se a virar as costas àquele coelho da Playboy, seguiu um trilho em busca do caminho de volta para casa, dado que a porta que lhe tinha dado acesso ao País das Porcarias se havia desvanecido.

Ao fim de algum tempo a caminhar, encontrou o lhe pareceu ser um tronco branco de uma árvore enorme, sentou-se no chão para descansar e encostou-se ao tronco, reparou que este cedia ao seu encosto, era macio, não era um tronco, olhou para cima na esperança de encontrar a copa de uma árvore, mas não... Encontrou um chapéu de cogumelo. A doce Alice estava debaixo de um cogumelo gigante!
No topo do cogumelo estava uma lagarta muito grande, roxa, de olhos enormes, de nariz redondo, e na ponta do seu nariz uns óculos que lhe davam um ar sábio, ela estava a fumar ópio. Olhou para a Alice do topo do cogumelo e disse:
“Deixa-me adivinhar! Vieste atrás do Coelho Playboy?” **
** Continua...
Este texto, e os dois que se irão seguir sobre a Alice, são para o Jaime.
Para que continue a ser um cidadão do nosso pequeno País das Maravilhas, onde nos encontramos para debater alguns dos problemas do País das Porcarias.

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