Sunday, October 22, 2006

Iniciação à entrevista

Este sábado participei numa “workshop” muito interessante, sobre ”Iniciação à entrevista e à reportagem”, o formador era realmente bom, um dos melhores jornalistas nacionais, com muita experiência na bagagem e com milhares de histórias para contar.
Ensinou-me como preparar uma entrevista, a preparar o que antecede a entrevista, a entrevista propriamente dita e o pós entrevista.
Mas a meio das explicações do conceituado formador, dei por mim, a ouvir tudo o que o mestre explicava, mas a aplicar os conceitos a outro tema que nada tem a ver com o jornalismo, ou se calhar tem, eu é que nunca tinha pensado nisso.

Sabem, quando temos que partilhar meia dúzia de palavras que nos incomodam, que nos picam, que nos trazem ansiedade, com a pessoa com quem mantemos uma relação?
Sabem como é aquela sensação de querer saber a verdade, toda a verdade, mas não saber que volta dar às palavras para não magoar a nossa cara metade, e ao mesmo tempo conseguir a informação que tanto almejamos?


Pois bem, acho que graças ao que aprendi sobre a “arte” de entrevistar, não vou ter muitos problemas da próxima vez que disser: “Amor, temos que falar...!”

Em primeiro lugar devemos ter em consideração o tipo de entrevistado (namorado) que temos entre mãos, pois este pode ser:

Monossilábico, e neste caso o entrevistador tem de multiplicar as perguntas para conseguir a informação que pretende.

“Estás triste?”
“Não.”
“Então que cara é essa?”
“A minha.”
“Já não gostas de mim?”
“Gosto”.
“Então o que se passa?”
“Nada.”

Falador compulsivo, fala, fala, fala e não diz nada, limita-se a fugir às perguntas que são feitas, neste caso o entrevistador deve interromper e colocar outra questão para mostrar ao entrevistado quem manda.

“O teu casaco está com um cheiro tão enjoativo...!! Onde é q andaste?”
“Querida, estava com tantas saudades tuas, foste ao cabeleireiro, não..!! É o teu cabelo que está sempre lindo e perfeito, e tens uns sapatos novos? São tão giros! E o jantar, já fizeste jantar? Podemos ir jantar fora e ir ao cinema, ou então...”
“Ou então respondes-me à merda da pergunta que te fiz há 10 minutos!!!!”

Confuso, não é claro ...as respostas são dúbias, neste caso não devemos hesitar em pedir esclarecimentos.

“Sinto que andas um pouco ausente, queres terminar? Já não te sentes bem na minha companhia?”
“Não, não é nada disso, eu adoro-te muito, és a mulher da minha vida, és tão perfeita que nem sei o que viste em mim, mas sabes...? O fantasma da relação anterior...não consigo esquecer a Cátia Odete, mas adoro-te! Mas acho que se me envolver demais contigo, posso esquecer a Cátia Odete e ela foi importante na minha vida. Mas amor, eu só te quero a ti!
“Tens 1h hora para decidir entre mim e a porta da rua, que é como quem diz, “a Cátia Odete”!”

O professoral, usa palavras caras, é erudito, exibe de forma exuberante a sua cultura. Esclarecer palavra, por palavra, na hora! Para não perdermos tempo a decifrar termos e conceitos quando chegarmos a casa.

“Podes sentar-te ao meu lado? Temos que falar!”
“Menina que faz o meu coração palpitar com tamanho fulgor, que me leva aos píncaros do prazer carnal, porque está assim tão irascível?”
“Irascível? Vais conhecer o novo significado da palavra irascível se continuares com essa conversa da treta!”

O irónico, tem que ser bem estribado, nada de nos deixar levar por ironias.

“Nunca mais chegavas! Estava a ficar com muitas saudades, porque chegaste tão tarde?”
“Olha, estive com duas gajas num motel com paredes forradas a veludo vermelho, tecto de espelho, e um jacuzzi, e estivemos a praticar sexo selvagem até agora...!”
“Com a verdade me enganas??!!”

Manipulador, usa truques sujos para não dizer o que queremos ouvir.

“Quem foi a tua melhor amante?”
“Estás a fazer essa pergunta porque estás a querer dizer que já dormiste com homens que te deram mais prazer que eu? É isso? Tu magoas-me...já estou a chorar, tu acabas comigo, não aguento mais isto, os outros são sempre melhores que eu...então porque estás comigo??”
“Desculpa, amor! Não era nada disso que eu pretendia, pronto vamos mudar de assunto, sou uma idiota, nem sei porque motivo fiz tal pergunta!”

Resistente, evita falar sobre o tema em questão e usa com frequência a expressão: “Sobre isso, não quero falar!”

“Quando é que a tua mãe deixou de tirar as espinhas do teu peixe, quando é que a tua mãe deixou de desossar o teu frango, quando é que deixou de te descascar a fruta?”
“Que parva, não quero falar sobre isso!”

Deixo aqui mais algumas dicas:
Nunca orientem a vossa pergunta para a resposta que tencionam obter, por mais que isso possa custar, por exemplo: “Gostas de estar comigo, não gostas?”.
Prefiram perguntas abertas: “Como?” ,“Porque?”, não façam perguntas que possam ter como resposta um “sim”, “não” ou “talvez”.
Não deixar passar em claro, meias verdades ou contradições, isso é adiar felicidade e alimentar ansiedade.
Após a entrevista/conversa, não arrumar as coisas e sair à pressa. No calor do leito, podemos aproveitar para em “off record”, tentar desvendar pequenos mistérios.

E acho que já vos transmiti o essencial, se não souberem estabelecer uma conversa com o vosso mais que tudo, nada como consultar um manual de jornalismo, deixem de lado os conselheiros matrimoniais, procurem jornalistas reconhecidos!

1 Comments:

Blogger Fauno said...

Menina, creio que em beve estarás apta para cordenares tu mesma um Workshop sobre estas matérias... chamas um jornalista para te auxiliar, um reptologo... e talvez alguêm mais, e tens uma equipa destinada a desvendar o assuntod e forma cognitiva...agrada-me...

Gostei do metodo, da forma metodica como fizeste a transição... e acredito que exista um pouco de todos esses estilos em nós...mas esta é uma boa forma de começar a estudar a questão e ainda obter resultados rapidos...PArabens... gostei muito!

Posso frequentar o workshop?

5:12 AM  

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