Wednesday, October 25, 2006

Sobre o amor

eu amo
tu amas
ele/ela ama
nós amamos
vós ameis
eles/elas amam

Para aquelas criaturas que vivem em miséria e que nunca conseguem conjugar este verbo, mas que com estranha facilidade conjugam outros tão sérios quanto este, e tão negativos quanto este tem de positivo…

Às pessoas que durante o dia conseguem dizer a brincar a um amigo – Eu odeio-te! – mas que guardam para si só a palavra do amor, esperando que surja um ser ideal a quem dedicar e em quem encerrar toda esta grande palavra… a essas pessoas eu esclareço, que o amor é um estado de espírito e não um avatar emocional, o amor é algo tantas vezes efémero quantas duradouro, e nestes dois extremos não me atrevo a hierarquizar entre eles, qual dos amores o mais forte… porque são diferentes… Um grande mestre desta matéria escreveu:

Canção do Engate

Tu estás livre e eu estou livre
e há uma noite para passar
porque não vamos unidos
porque não vamos ficar
na aventura dos sen tidos
Tu estás só e eu mais só estou
que tu tens o meu olhar
tens a minha mão aberta
à espera de se fechar
nessa tua mão deserta
Vem que o amor
não é o tempo
nem é o tempo
que o faz
vem que o amor
é o momento
eu que eu me dou
em que te dás
Tu que buscas companhia
e eu que busco quem quiserser
o fim desta energiaser
um corpo de prazerser
o fim de mais um dia
Tu continuas à esperado melhor que já não vem
e a esperança fio encontrada
antes de ti por alguém
e eu sou melhor que nada

António Variações

Então o conceito, o sentimento prende-se a fenómenos muito simples, a vontade de estar com alguém quando acordas, adormecer a pensar nessa pessoa, ou simplesmente alguém com que cruzaste olhar no comboio (sim, na Linha de Sintra acontece muito).
No fundo podes guardar eternamente essa palavra para ti e nunca a dizeres a ninguém, e isso nem quer dizer que não o tenhas sentido alguma vez, simplesmente não o comunicaste a alguém, pelo menos por palavras, e isso por vezes quer dizer que também não o assumiste como tal, que vives internamente um amor mascarado de outra coisa menos importante… se nunca assumires que amas nunca amarás de verdade.
Deixo aqui cortado e colado em pedaços, uns trechos e excertos da enciclopédia do amor, escrita e cantada por alguns dos mestres de referencia sobre o assunto em cima da mesa, (gosto tanto, em cima da mesa…)

O Quereres

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão

Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês
Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói
Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és
Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inceticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim

Carlos Coutinho

Sempre pensei que tivesse sido o Chico Buarque a escrever... de qualquer das maneiras cantada por ele e pelo Caetano Veloso é notavel e ganha outra força...
http://www.youtube.com/watch?v=97JGiKnzsKc&feature=PlayList&p=7C356629EA83509D&index=4

(...) Eu quero a sorte de um amor tranquilo(...)

Pois queres Chico, não queremos todos?
O Chico também percebe muito de amor, é outro mestre, e na sua obra ele diz tudo sobre o desejo de amar, quando já antes se amou e descambou…

Anel de rubi…

tu eras aquela que eu mais queria
pra me dar algum conforto e companhia
era so contigo que eu sonhava andar
pra todo o lado e ate quem sabe talvez casar
ai o que eu passei so por te amar
a saliva que eu gastei para te mudar
mas ese teu mundo era mais forte do que eu
e nem com a forca da musica ele se moveu.
mesmo sabendo que nao gostavas empenhei o meu anel de rubi
para te levar ao concerto que havia do rivolie
era so a ti que eu mais queriaao meu lado no concerto nesse dia
juntos no escuro de mao dada a ouvir
aquela musica maluca sempre a subir
mas tu nao ficaste nem meia hora
nao fizeste um esforco pra gostar e foste embora
contigo aprendi uma grande licao
nao se ama alguem que nao ouve a mesma cancao
mesmo sabendo que nao gostavas empenhei o meu anel de rubi
para te levar ao concerto que havia do rivoli
foi nesse dia que percebi nada mais por nos havia a fazer
a minha paixao por ti era um lume
que nao tinha mais lenha por onde arder
mesmo sabendo que nao gostavas empenhei o meu anel de rubi
para te levar ao concerto que havia do rivoli

Rui Veloso

os anéis desta era são diferentes… não são sequer joalharia… maquinas fotográficas digitais entre outras coisas… mas continua a dar para perceber quando acontece, numa relação a dois, um dá sempre mais do que o outro e isso é natural. Torna-se um problema quando o desequilíbrio é muito grande, é como um pequeno barco com um grande buraco, e haverá sempre muito sofrimento a entrar… o conselho é perceberem o mais depressa aquilo que o Rui vos tenta dizer, percebam se ouvem a mesma musica, se há sintonia, e se não houver saltem antes que se queimem, ou antes que fiquem a arder, com a prestação de um presente dispendioso…


O Caetano Veloso faz alusão à mesma matéria, indicando o mesmo percurso numa relação… no fundo se não gostas de alguém o suficiente, porque não liberta-lo para que esse alguém procure um amor mais equilibrado…todos merecemos amar e ser amados de forma equilibrada… Tenho falado muito de equilíbrio, bem, porque acredito que será a palavra que melhor descreve o que se procura nos sentimentos que soldam uma relação.


s vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado,
juntandoo antes, o agora e o depois
por que você me deixa tão solto?
por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho!
Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho meus segredos e planos secretos
só abro pra você mais ninguém
por que você me esquece e some?
e se eu me interessar por alguém?
e se ela, de repente, me ganha?
Quando a gente gosta
é claro que a gente cuida
fala que me ama
só que é da boca pra fora
ou você me enganaou não está madura
onde está você agora?
Quando a gente gosta
é claro que a gente cuida
fala que me ama
só que é da boca pra fora
ou você me enganaou não está madura
onde está você agora

Caetano Veloso
Porque é nobre admitir o nosso amor, a nossa paixão...porque é lindo faze-lo às claras...

Valsa de um homem carente

Se alguma vez te parecer
ouvir coisas sem sentido
não ligues, sou eu a dizer
que quero ficar contigoe apenas obedeço
com as artes que conheço
ao princípio activo
que rege desde o começo
e mantém o mundo vivo
Se alguma vez me vires fazer
figuras teatrais
dignas dum palhaço pobre
sou eu a dançar a mais nobre
das danças nupciais
vê minhas plumas cardeais
em todo o seu esplendor
sou eu, sou eu, nem mais
a suplicar o teu amor
É a dança mais pungente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
Jorge Palma


Este artigo poderia estar eternamente aberto e íamos adicionando musicas e letras e poemas que lhe aumentariam o caudal de razões… pois sei que todos vocês neste momento já se lembraram de outra musica… outro poema, que gostariam de ver aqui referido…pois bem, fica o desafio!

Deixo uma ultima canção... que vale pela inocência... pela beleza de um amor cmo o que o Chico Buarque deseja...

Cinderela

Eles dão duas crianças
a viver esperanças, a saber sorrir.
Ela tem cabelos louros,
ele tem tesouros para repartir.
Numa outra brincadeira
passam mesmo à beira sempre sem falar.
Uns olhares envergonhados
e são namorados sem ninguém pensar.
Foram juntos outro dia,como por magia, no autocarro, em pé.
Ele lá lhe disse, a medo:
'O meu nome é Pedro e o teu qual é?'

Ela corou um pouquinhoe respondeu baixinho:
'Sou a cinderela'.
Quando a noite o envolveuele adormeceu e sonhou com ela...

Então
Bate, bate coração
Louco, louco de ilusão

A idade assim não tem valor.
Crescervai dar tempo p'ra aprender,
Vai dar jeito p'ra viver
O teu primeiro amor.
Cinderela das histórias
a avivar memórias, a deixar mistério
Já o fez andar na lua,
no meio da rua e a chover a sério.
Ela, quando lá o viu,
encharcado e frio, quase o abraçou.
Com a cara assim molhada
ninguém deu por nada, ele até chorou...
Então ...
E agora, nos recreios,
dão os seus passeios, fazem muitos planos.
E dividem a merenda,
tal como uma prenda que se dá nos anos.
E, num desses momentos,
houve sentimentos a falar por si.
Ele pegou na mão dela:
'Sabes Cinderela, eu gosto de ti...'
Carlos Paião

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Apenas uma correcção...Valsa de um homem Carente é um poema de Carlos Tê, musicado e cantado pelo Jorge.
Toda a agenda artística de Jorge Palma actualizada em www.bloguepalmaniaco.blogspot.com
newsletter/informações: contactar ladoerradodanoite@hotmail.com

12:21 PM  
Blogger Ana de Amsterdam said...

Bonito. As músicas foram escolhidas a dedo: "Valsa de um homem carente", "O quereres", "Só", "Canção do engate", são algumas das minhas músicas de eleição.

Acho que não tenho grandes pudores em dizer "Gosto de ti!". Mas por vezes não é fácil faze-lo, ás vezes não consigo faze-lo de ânimo leve... Como canta a Manuela Azevedo:

"Problema de Expressâo"

Só pra dizer que te Amo,
Nem sempre encontro o melhor termo,
Nem sempre escolho o melhor modo.

Devia ser como no cinema,
A lingua inglesa fica sempre bem
E nunca atraicoa ninguém.

O teu mundo esta tao perto do meu
E o que digo esta tao longe,
Como o mar esta do céu.

Só pra dizer que te Amo
Nao sei porque este embaraco
Que mais parece que só te estimo.

E até nos momentos em que digo que nao quero
E o que sinto por ti sao coisas confusas
E até parece que estou a mentir,
As palavras custam a sair,
Nao digo o que estou a sentir,
Digo o contrario do que estou a sentir.

O teu mundo esta tao perto do meu
E o que digo esta tao longe,
Como o mar esta do céu.

E é tao dificil dizer amor,
É bem melhor dize-lo a cantar.
Por isso esta noite, fiz esta cancao,
Para resolver o meu problema de expressao,
Pra ficar mais perto, bem mais de perto.
Ficar mais perto, bem mais de perto.



Mencionaste o Chico Buarque, o Chico é o meu mestre aprendi com ele quase tudo o que sei sobre o "amor", eu sou a sua aprendiz, choro os males de amor ao som da poesia dele, comemoro um novo amor dançando os sambas maravilhosos que ele compõe.

Tal como o Chico eu só sei viver apaixonada, e vivo na doce ilusão de que o próximo amor será melhor que o anterior... Por isso deixo aqui uma das minhas preferidas.

" O meu amor"

Chico Buarque/1977-1978
Para a peça Ópera do malandro, de Chico Buarque.

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai

As duas: Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Para terimar queria dizer:

Gosto de ti, miúdo!!

3:03 AM  
Anonymous Anonymous said...

Apenas uma correcção...O Fauno não é um homem, nem um míudo...é uma rapariga que à noite é conhecida por Xuxu Beleza - A Cowgirl do Bar de Strip "LépDénss"

6:36 AM  

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