Ontem, hoje e depois de amanhã
Parece que não, mas na verdade 10 anos é muito tempo.
Não parece, porque não sinto o tempo a passar. Não
fez vento, correu como uma brisa.
Se calhar porque nasci com o traseiro virado para
lua, é bem possível porque nasci de madrugada. Se calhar aquela bola branca e
brilhante, presa no negro do infinito, esteve sempre lá no alto a olhar por mim,
desde 12 de Outubro de 81. A vida correu-me bem, corre bem.
Mas quero deixar-vos um cheirinho de passado, a
doçura e preocupações do presente e esperanças do futuro.
Muitas letras deixei neste espaço, que construíram desabafos
que me lavaram a alma em tempos difíceis, quando andava de coração aberto, à
espera que um tesouro de origem italiana entrasse nele. E não é que entrou
mesmo?! Disse-vos, fui bafejada pela sorte.
E é envolta no brilho desse tesouro que vivo há quase
8 anos. Não poderíamos começar a nossa história de um modo convencional, até
porque haverá pouco disso em nós, e então, de forma a cumprir o sonho de
ambos, partimos de lua-de-mel sem casar. E essa lua-de-mel foi o casamento mais
bonito que este mundo já viu. O casamento foi uma festa constante que durou por
10 meses. Um dia celebrávamos junto a uma cascata que vinha do céu e ao
desfiar-se em terra abria-se numa bruma de borboletas de asas transparentes, no
outro no fundo do mar por entre corais e raias aladas, no seguinte no topo das
nuvens com o ar tão rarefeito que respirar e dar um beijo em simultâneo era uma proeza atroz.
Fundimos as vidas, os corpos e os sonhos. Fizemos
uma vida a dois, uma casa a dois, depois juntou-se a princesa canina. Linda e
doce que só ela.
Fizemos um filho, a nossa pérola. Fizemos uma vida
a três sem nunca deixar de ter espaço para a vida a dois. Seremos sempre dele
com a certeza de que, antes, já éramos um do outro. E isso parece-nos belo,
parece-nos especial.
Enquanto escrevo apercebo-me, realmente, que tenho
uma vida cheia e é por isso que me estarreço e transtorno, com a realidade de
muitas vezes não me sentir em pleno, de não deixar a felicidade do meu
dia-a-dia entrar em mim como deveria. Existem, nos últimos anos, uns quantos
fantasmas que me atormentam o juízo mais do que quero, mas não os consigo
frear. São sombrios, vazios, não são merecedores de atenção, mas em tempos já
foram. Penso que é isso que mais me incomoda. Essas auras escuras que me
procuram, em tempos foram personagens plenos de cor e presença na minha vida.
Neste momento não merecem qualquer atenção, tão
pouco os meus pensamento ou angustias, mas fazer o que? Uma pessoa não cresce
quando quer… Devo aprender a tornar-me imune ao veneno.
Neste momento tenho a vida tão recheada de coisas
boas, qual bola de Berlim a explodir de creme no fulgor do Verão, mas há umas
quantas azeitonas a dar-me uma azia daquelas…
É como viver nas Caraíbas e estar sempre com um
azedume no estômago que não nos deixa ver o azul transparente do mar, ouvir o
canto das aves marinhas ou sentir o calor da areia a acarinhar-nos a pele .
No futuro, não muito distante, irei entrar com os
meus na Toca do Loba, conto com a vossa ajuda para desbravar terreno e torná-la
um lar.
Serão convidados de honra, prometo.