Sunday, October 28, 2007

Para os tolos que flutuam

Este texto é dedicado a todos os tolos que pertencem àquela minoria de pessoas que não consegue, de forma nenhuma, andar com os olhos pregados no chão, àqueles que não andam com aquele passo apertadinho, travadinho, stressadinho, miudinho.
É dedicado àqueles que nunca andam com os ombros sempre à altura do queixo e ligeiramente inclinados para a frente.

É dedicado a pessoas tolas que como eu, andam na rua a pensar por exemplo que fado é o masculino de fada (o destino pode casar com uma fada…que triste fado seria o da fada se tal acontecesse…) e no meio de divagações tão idiotas como esta; pela avenida da liberdade, pelo rossio, no metro, no comboio; e no meio destes pensamentos o rosto faz questão de retratar o que vai na caixa forte que é o cérebro, que vai na volta nem é assim tão forte, porque se fosse não deixaria passar tudo para os olhos (num olhar revirado ou numa sobrancelha levantada), para a boca (num sorriso) …

Mas isto para dizer que quando acordamos por uns segundos, quando poisamos no Mundo real, deparamo-nos com uns monstros esquisitos que olham para nós fixamente, que querem entrar nas nossas mentes, para saber o que nos faz sorrir e ter o olhar perdido no vazio, mesmo quando estamos dentro de um autocarro em hora de ponta com o nariz quase ao nível da axila de um trabalhador da construção civil.
E essas pessoas que nos olham estupefactas, para as expressões do nosso rosto em resultado das grandes “raves” cerebrais, são pessoas encarquilhadas, enfezadinhas.
Olham para nós com um ar esquisito… e se sorrimos para elas, em jeito de: “Bom dia, senhora!”, vomitam um semblante chocadíssimo, de quem pensa: “Este sorriso deve ser sobra da pastilha que a miúda meteu ontem à noite…esta juventude está perdida, que Deus a leve e guarde!”

Posso deixar aqui alguns exemplos da forma como são tratadas as pessoas que não andam com o olhar pregado ao chão.

Ainda no outro dia, sai do comboio com os "phones" nos ouvidos, o dia não tinha sido fantástico, então, fiz o meu mp3 cantar-me ao ouvido uns excelentes sambas da grande mãe do samba: Beth Carvalho. E foi assim que fui caminhando pela plataforma do comboio, esqueci-me completamente de onde estava, o meu cérebro levou-me para as pequenas e intimistas casas de samba do Rio de Janeiro, lá estava eu…com uma caipirinha na mão, a ver a Beth Carvalho a cantar os meus sambas preferido, todos dedicados à menina portuguesa... creio que sem me dar conta, comecei a andar pela estação com um "swing" diferente, creio que com o “samba no pé”, desci as escadas ao ritmo de samba que estava ouvir e…depois do último degrau, terminei com um passo de samba, BOOOOMMM….fui acordada por um fogo cruzado de olhares dirigidos à minha fraca figura. Até fiquei atordoada…oh, gente de pouca fé! Deviam ter entrado no samba comigo!

No outro dia aconteceu uma situação peculiar, num banco de quatro no comboio, fiquei de frente para um “semelhante”, estava a ler o jornal quando ele entrou, terminei a leitura e coloquei o jornal entre o banco e a parede, se é que assim se pode chamar.
Em jeito de mimo, o rapaz olhou para mim com os olhos esbugalhados e apontou na direcção do meu jornal. “Queres o jornal?”, perguntei. Ele disse que não com a cabeça e com a boca em forma de bico de passarinho e continuou a apontar, olhei e descobri um papelinho por baixo do jornal da CGTP, “Isto??” perguntei. Acenou afirmativamente com a cabeça, com os olhos, com o nariz com o sorriso e piscou-me o olho.
Pegou no papel, virou-o e começou rabiscar algo no verso, olhava para mim, sorria: “hihihihihi”, baixava os olhos e desenhava algo. Sempre com a atitude de um mimo.

No final, mostrou-me o papelinho rabiscado, tinha feito a caricatura da senhora gorda, feia e de ar antipático que estava sentada ao meu lado. Ri às gargalhadas com o comboio cheio! Mais uma vez fui olhada por todos, porque chorei a rir, a caricatura era muito boa…!
Ele desenhou mais alguma coisa, levantou-se para sair e já perto da porta mostrou-me o desenho e apontou para mim: era uma menina de olhos grandes e pestanudos com um sorriso rasgado, saiu do comboio, e foi à minha janela dizer um adeus, aquele deus em jeito de mimo.

Estas são apenas duas das milhares de situações que vivi, por não andar com os olhos pregados no chão…

Quando chego ao trabalho há sempre uma das meninas que me pergunta: “Então? O que te aconteceu hoje?”.
E lá relato a história do dia.

Flutuem…deixem a cabeça pelas nuvens… ou então estejam realmente abertos para o que se passa de bom cá em baixo!


9 Comments:

Blogger Jaime Esqueci said...

Sou um tolo...definitivamente sou um tolo.E desde que voltei à vidinha de ir a lisboa 2 e 3 vezes por semana confesso que tinha saudades das flutuações.Mas ao contrário de ti procuro não ver os não flutuadores de forma tão "negra"...talvez pela formação académica acabo sempre por vê-los como histórias de vida e mesmo os mais taciturnos têm direito a terem a sua novela.Ainda na passada 5ªFeira fui no barco das 23h30 com uma trintona que trabalhava como segurança(a minha amiga vaticinou-lhe um cargo numa empresa de restauração)e que ia chegar a casa com o marido aflito porque lhe desgravaram a cassete que guardava com o Benfica 6 Sporting 3.O filho teria,com a aflição de não querer perder o último episódio dos Pokemons,colocado a cassete por engano.O marido iria bater no filho e para surpresa de todos a mãe também acabava a bater no filho...afinal de contas o glorioso 6-3 em Alvalade é um marco da história de Portugal.Eu e a minha amiga anuímos com este desfecho...mais adiantámos que porventura deveríamos seguir a trintona até casa e pelo sim pelo não batíamos no puto também!

Benficaaaaaaaaaa!

3:04 PM  
Blogger Francisco Martins said...

Sim, eu tb sou um tolo assumido! Aliás, sou tão tolo tão tolo que parece k tenho uma espécie de íman k atrai todo o género de situações improváveis e verdadeiramente estranhas. Desde andar pela plataforma do metro com a cabeça na lua, e quando dou por mim, os desenhos todos de algum projecto da faculdade me irem todos parar à linha do metro, esvoaçando trocistas, como se se tratasem de um baralho de cartas loucas do país das maravilhas, e eu um primo afastado da Alice, enquanto a velha baleia que se encontra ao meu lado (por certo uma descendente da Rainha de Copas), me atira um olhar fulminante de quem me vai acusar de poluir a cidade. Há também aquela vez em que o poste de alta tensão em frente da minha casa resolveu explodir na última semana do último ano do meu curso, às 6 da manhã quando aqui a pessoa estava mesmoooo quaseeee a acabar o trabalho final - k tinha de ser entregue dali a algumas horas, e a casa desatou a tremer, as luzes todas a apagar e a acender, e o pc, com um derradeiro gemido - decididamente desagradavel - resolveu morrer. Um rugido ecoou pelas paredes. Com um clarão, a noite transformou-se em dia, e uma onda magnética atravessou o recinto, provocando na minha cabeça uma tontura e no meu estômago uma náusea colossal. No meio disto tudo, em vez de me aperceber do k se estava a passar, eu so conseguia pensar que estava a ser abduzido por ets! enfim, como estas há inúmeras, incontáveis situações que vão tropeçando aos trambulhões pelas páginas da minha vida.

Eu já sou por natureza uma pessoa asim a modos que, um tanto quanto... meio azarada...Então quando me junto com essa menina de Amsterdam, é a loucura! se sozinho é o que é, quando dois tolos tão tolos como nós se juntam, parece que o universo conspira para que algo de muito bizarro aconteça...o ar agita-se e deita faíscas, tal é a alteração sofrida pelos portais entre os mundos...nessas alturas, a barreira entre este mundo e o OUTRO fica muito mais ténue. TUDO pode acontecer!

3:44 AM  
Blogger Ana de Amsterdam said...

faíscas..hehehehe

as faíscas cheiram-se ao flash da máquina fotográfica.

E quando entram as facas?? E as folhas da trepadeira?? E o chapéu do teu pai ir à caça?? E o poço? E o búzio do Tahiti? E o avental de folhos das tua mãe? E bola de cristal??

Onde é que podemos encontrar uma chave para apertar os nossos parafusos cerebrais??

8:53 AM  
Blogger Francisco Martins said...

LOL, estás-te a esquecer das pintas de halibut nas trombas, as as flores morbidas espalhadas pela tua figura inerte, kd eu te obriguei a fazer de Ofélia morta! ah, e os puxões de cabelo, alternados com cenas de porrada! LOL...ok, internem-nos na mesma cela que é para não ter de estragar duas!

2:01 PM  
Blogger Jaime Esqueci said...

Meus amigos, o amor anda no ar...dizem que com a primavera e os dias solarengos andam de mãos dadas com o cupido...já viram que é quase novembro e ainda temos um sol primaveril?que tal virarem o rabinho(salvo seja) para o cupido e deixarem-no fazer a magia hm?

Deixem-se lá de coisas pah...já vi namoros a começar por menos...

11:04 AM  
Blogger Ana de Amsterdam said...

Caro Jaime,
o nosso namoro é muito antigo...creio que terá cerca de 11,12,13 anos, é tão perfeito que nem ligamos à data de início da relação...!

O nosso namoro é puro, doce e muito saudável...sempre leais e fieis um ao outro!

Estamos sempre a inovar...somos ambos muitos criativos, imaginação não falta na nossa relação, penso que será este o segredo para os 11, 12 ou 13 anos de namoro.

2:05 PM  
Blogger Francisco Martins said...

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3:08 AM  
Blogger Francisco Martins said...

É verdade! 11, 12 ou 13 anos que mais parecem uma vida inteira...Aliás, estou certo que os laços que nos prendem, existem desde os tempos imemoriais em que as terras de Ys foram engolidas pelo mar, muito antes desta vida. São resquícios dessa sabedoria ancestral que esculpem as formas da nossa amizade tão plena, pura e verdadeira, e lhe edificam os alicerces.

Será sempe assim...até não haver mais lua.

3:12 AM  
Blogger Jaime Esqueci said...

Nesse caso já se conhecem demasiado bem.13 anos de amizade torna impossível descobrir surpresas desagradáveis.Conhecem tudo sobre tudo de cada um.E toda a boa relação começa por uma boa, sólida e transparente amizade.

3:47 AM  

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