Friday, October 05, 2007

México à chegada - Yiimtii -

Dia 5 de Outubro parti rumo à cidade do México. Uma viagem longa, aborrecida com uma paragem em Madrid, uma viagem carregada de ansiedade, dúvidas, expectativas e claro, saudade de um menino que me esperava lá…no México, com os pés no Pacífico.

A viajem foi aterradora e quando pensei que não conseguiria suportar nem mais um minuto o meu traseiro assente naqueles bancos desconfortáveis da Ibéria, comecei a avistar a interminável cidade do México…uma cidade sem fim. O meu olhar apenas alcançava cidade, cidade, cidade... o chão parecia uma folha quadriculada, uma colcha de patchwork com milhares de cores, um labirinto ilimitado de ruas, avenidas e quarteirões que formam uma teia construída por milhares de espécies de aranhas, ao longo de centenas de anos.


Ciudad de México

Saí do avião com um passo apressado que foi rapidamente travado por um policia que me pediu o passaporte, olhou para capa do mesmo e exclamou para o colega que se encontrava do outro lado da sala: “Mira, una chica Lusa!!” . Sorriram um para o outro e miraram-me de alto a baixo. As lusas sempre em alta.

Com os sentidos apurados e sintonizados numa das cidades mais populosas do mundo, parti directa para o terminal de autocarros. Cortei a cidade em hora de ponta num táxi com um motorista simpático que tentou aprender português comigo, com milhares de borboletas a voar no meu estômago e com um pavor imenso de perder a nave espacial que me iria levar a Pochutla, vou chutando umas palavras de português para o motorista repetir com sotaque espanhol logo de seguida.

Alcancei finalmente aquele oásis de naves! Comprei o bilhete um lanchezinho e entrei a voar para dentro do autocarro.
Sentei-me, descalcei os sapatos, bebi um golinho de água, tentei relaxar, tentei pensar que em menos de 12 horas estaria nos braços de alguém que me quereria bem…tentei pensar em coisas boas e tentei ignorar o enorme cansaço que se apoderava de mim. Não consegui, senti um enjoo. Parecia que as borboletas que voavam no meu estômago queriam ver a o pôr-do-sol e viram mesmo…Derrotada pelo cansaço e pelas borboletas sucumbi morta de cansaço nos bancos empoeirados daquela nave com muitas rodas.

Fui acordada às 2h da manhã por um policia que tinha entrado na minha nave com muitas rodas, o cara feia queria ver a minha bolsa, chafurdou por entre cadernos, lápis, chocolate, espelho, canivete suíço, rímel…pediu o passaporte, olhou-me nos olhos e disse: “Buena noches, amor!” e foi-se.

Não conseguia dormir mais, estava farta da noite, queria ver o sol, queria ver as cores do México, sem ver cores tenho dificuldade em sentir odores, estava atenta como um ratinho murganho, de olhos postos nas janelas à espera que o sol nascesse, já me sentia mais perto do mar e essa impressão enchia-me de boas sensações. “Está quase!”, pensava eu de dez em dez minutos…durante a viagem de autocarro senti-me uma menina de dois anos, um adolescente de dezasseis anos e uma mulher madura certa das suas vontades e cheia convicções.

O rosa começou a ganhar terreno face aos azuis-escuros da noite e começou rasgar o céu, a cada minuto que passava, a cada raio de sol que trespassava o vidro do autocarro eu sentia-me mais viva. Sentia-me a vibrar e finalmente vi o mar!

E cheguei finalmente a Pochutla às 8h30m, uma hora antes da hora prevista, pego na minha baleia com asas, que é como quem diz: na minha mochila, coloco-a às costas e tento encontrar um lugar para estabelecer uma ligação com a península ibérica.

Esperei hora e meia, o menino não aparecia…as borboletas reproduziram-se dentro do meu estômago e agora voavam aos milhares, espalharam-se por todos os órgãos do corpo, por todos os membros, senti o queixo e os joelhos a tremer: “Será que se esqueceu de mim?” .

Decidida a apanhar um táxi para algum lugar, ponho os pés na estrada vermelha repleta de pedregulhos, contorno um carro mais velho que eu e…ele, o menino, ali estava ele à minha frente!

Larguei a mochila num ápice, ofereci-lhe primeiro uma palmada forte no braço e depois não resisti a um abraço apertado.
Ás 10h da manha fomos comer uns tacos ao mercado e beber uma corona, ele encheu a mochila dele com mantimentos e depois partimos num autocarro que nos deixou na beira da estrada, aí entramos num caminho pedregoso pela floresta, cada um com a sua mochila, uma humidade de cortar à faca, cinco rios para atravessar, uma chuva que teimou em começar e permanecer e 2 horas de caminho por entre exércitos de mosquitos. Se parasse para descansar era devorada por estes ferozes guerrilheiros do mundo animal.

Yiimtii

E finalmente chego a uma casita no meio da floresta, em cima de uma falésia e lá em baixo a apenas alguns metros, lá estava ele…o Pacífico!
Aqui permaneci de quinta a segunda, não vou contar com detalhe o que se passou neste lugar. Matei saudades, nadei nua no pacífico, perdi-me atrás de borboletas gigantes e coloridas, vi crocodilos. O lugar é absolutamente mágico, fantástico, paradisíaco, creio que não tenho adjectivos suficientes para classificar aquele retiro e nem as picadas de mosquitos e carraças me fizeram mudar de opinião sobre aquela toca à beira mar plantada.

Mas a companhia….bem, a companhia foi boa, apenas boa…

O Jorge Palma diz na música “Encosta-te a mim”:

“…Chegado da guerra,

fiz tudo p´ra sobreviver em nome da terra,

no fundo p´ra te merecer

recebe-me bem,

não desencantes os meus passos

faz de mim o teu herói,

não quero adormecer.

Tudo o que eu vi,

estou a partilhar contigo

o que não vivi, hei-de inventar contigo

sei que não sei, às vezes entender o teu olhar

mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim…”

Ele não fez de mim a sua heroína.

**Continua.

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