Sunday, August 13, 2006

Marinheira de águas turvas

Sou nómada, estamos no Verão, altura em que todos reservam uma semana de férias para aproveitar as carícias do sol. Sou contra as vontades das grandes multidões, normalmente entro no pequeno barco das minorias, mas não fugi à regra e reservei uns dias para usufruir dos prazeres do sol. Porém, não me refugiei nas praias que perdem o carisma por se encontrarem sobrelotadas, embarquei sozinha num pequeno barco e rumei ao desconhecido, precisava de aventura, estava farta de viver de recordações, queria acrescentar mais páginas ao meu livro da vida.

E assim foi, embarquei naquilo a que chamei uma viagem espiritual.

Nos primeiros dias as águas do oceano apresentaram-se calmas, de noite ouvia a voz das sereias que me acalmavam o espírito e me preparavam para o longo Inverno que não tarda a chegar.

Quando me habituava a esta placidez, tive notícias do continente, já nem me lembrava que havia algo para além dos mares e dos oceanos.Recebi notícias do meu país, recebi notícias através de um belo rapaz, um amigo de uma outra viagem, de uma viagem verde, uma viagem longa pela floresta, o meu amigo tentava encontrar-me em terra, na minha terra, que por acaso não é a terra dele, porque tal como eu esse amigo nao tem terra nenhuma. Ponderei sobre o facto de o convidar a participar na minha viagem, estava determinada a fazê-la sozinha, mas ele vinha de longe, vinha sedento de conversas prazerosas, vinha sedento da menina que ele conhecera noutra paragens. Através das novas tecnologias informei-o do meu paradeiro e dei-lhe umas instruções kármicas para que me encontrasse em alto mar. E ele encontrou-me.... com o cabelo desgrenhado do vento e a pele saturada de sal, foi um encontro explosivo, até Neptuno apareceu e agradeceu o agito que levámos para as profundezas do oceano.
As viagens mudam as pessoas... ele tem viajado pouco, não o encontrei muito diferente, de quando em quando interrompia as nossas conversas, do mesmo modo que já fez outrora, para falar e resolver problemas de amigas de outras paragens, nessas alturas eu praguejava, gritava raios e coriscos em silêncio, nadava em alto mar e vingava-me nos carapaus e sardinhas que pescava compulsivamente, sem dó nem piedade para o nosso almoço. Os dias foram passando e o meu companheiro de viagem abandonou-me já com a fome e a saudade saciada, voou para outras paragens.

Senti uma baixa de energias após a partida desse ser enigmático, precisei de repor as minhas energias e viajei para um país que me foi indicado pelas estrelas, um país onde toda a gente se encontra de passagem, esse país é mais ou menos como aquelas zonas onde existem termas, as pessoas vão até lá para se submeterem a uma terapia, naquele país as terapias que reinam são a dança e a terapia dos afectos. Um belo país, espero voltar no próximo ano, a música está por toda a parte, assim como pessoas bonitas a transbordar de boas vibrações, depois de umas sessões de abraçoterapia, senti-me rejuvenescida, despedi-me dos terapeutas e voltei para o meu barco.

Como não sabia que rumo tomar, deixei que o vento me orientasse, orientou-me mal...muito mal....levou-me para os braços de um milhafre ferido na asa, ferido por mim. E como tal quis pagar-me com a mesma moeda, ou seja as férias estão a terminar, e eu acabei com saldo negativo no que diz respeito a energias positivas.

Terminei as férias mais cansada do que quando comecei, no entando tenho mais dez páginas a acrescentar ao meu livro da vida. Nas próximas férias deveria ponderar a hipótese de fazer o mesmo que os outros 9 milhões de portugueses.

Tinha como objectivo levar a tristeza e a solidão para alto mar, e lá deixá-la aos cuidados de Neptuno, ele agradeceu o presente, mas disse que não precisava daquela oferenda.

Não quero fazer do nosso blog um diário de bordo, apenas queria registar as novidades desta contribuidora que tem andado tão ausente.

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